À filosofia do instinto.
Creio que estamos progredindo, meu caro. De tudo o que dissemos, já concordamos em boa parte, o que é salutar, como discordamos ainda em muita coisa, o que é estimulante. E assim, salutar e estimulante, deve ser toda boa discussão.
Quando disse que "discordo veementemente de sua proposição do instinto como inimigo" é porque a idéia que ficou é que o instinto deve ser tratado assim; que sua maior parte é inimiga. Três trechos seus demonstram essa idéia:
"Assim como estudamos nossos inimigos para conseguir derrotá-los, devemos também estudar nossos instintos sociais para saber ao certo como domá-los";
"A sociobiologia permite, ao mesmo tempo, que estudemos nós mesmos e a parte de nós que é nossa inimiga" e
"Somente ao nos conhecermos e conhecermos também o 'inimigo social biológico' que trazemos dentre de nós, podemos tornar o mundo um lugar melhor."
É comum mesmo entre biólogos pensar que o homem que mata age biologicamente, irracionalmente, mais perto do bicho, e que a fria razão humana estaria de antemão mais próxima da justiça, da moral, da paz e da felicidade, quando o uso mais comum da razão é apenas tentar justificar o instinto. Acredita-se que a razão estaria mais próxima do bem, uma vez que é a característica humana por excelência. Apenas a característica mais humana poderia estar perto do bem, uma vez que apenas o nosso bem é um bem humano, como é também, diga-se de passagem, o bem divino, também chamado ópio do povo.
Falácias! Nosso bem é, em larga escala, apenas o bem animal. Conforto, saciedade e descanso. Bem-estar. É o que todos buscamos, no final, dos besouros ao resto. Devemos parar de nos drogar e atentar para o lado terrestre, físico, materialista num sentido que ainda não havia sido descrito, para o bem, como para o mal.
O perigo em pensar o instinto como mal, ou tanto mal como bem (ou como você ainda parece ver: mais como mal do que como bem, quando é justamente o contrário), é que se trata de uma metáfora subliminar e descuidada entre acima e abaixo na árvore evolutiva, estando o bicho ancestral abaixo, e o homem racional acima, com uma perspectiva religiosa, em que temos o mal, o inferno e sua legião abaixo, Deus e os justos, acima. Novamente outra metáfora perigosa: a Terra embaixo, a realidade física e ordinária, materialista e animal, a que não tem valor no imaginário popular (só nos cartórios e nos leilões) abaixo, junto do mal e do macaco da árvore evolutiva, na direção das raízes; e os céus acima, povoados de deuses e anjos, distante da realidade mundana, pobre e violenta; acima rumo ao conforto e alegria, a vidas futuras, rumo a tudo que o dinheiro hoje paga, acima, rumo ao ideário popular e religioso, na direção da irracionalidade, e também da racionalidade, da razão e todos os seus limites e limitações, a última novidade evolutiva, a menos aprimorada, a mais rústica, o progresso em termos biológicos, culturais e tecnológicos, o progresso na história, o futuro da esperança e da suposta felicidade, para o alto e avante!
Quanta mentira, quanta propaganda! É assim que as dicotomias e os fenômenos subliminares agem no dia-a-dia. E nos pegamos enxergando cauda como sinônimo de capeta. E o povo pobre acha que a Terra pertence ao mal, que o bem só pode estar longe, no alto inatingível, entre vertebrados gasosos que teriam criado um homem com vergonha da própria nudez.
Se isso não é chamar o instinto de inimigo, não sei o que seria. Sun Tzu, o grande sábio bélico da antiguidade chinesa, falou sobre inimigos que são como nós, não parte de nós. Além disso, minha sugestão para o reencontro com o instinto não é pela guerra, mas pelo convívio progressivo e calmo, pacífico e alegre. Só pelo conhecimento, e guerra é espoliação. Isso limita sua analogia, embora talvez não a invalide. Pessoas deveriam, antes de tudo, ser conquistadas com o carisma, se possível, e domadas apenas quando ameaçam nossa liberdade e integridade. Esse talvez seja o ensinamento de Tzu. O inimigo interno deve ser conhecido justamente para ser domado, mas quem é, então, o inimigo?
A meu ver, na sociedade moderna, a razão de uns poucos é o que ameaça a liberdade e a integridade da maioria; a culpa não está no instinto. A culpa está nos que trabalham mais, nos que pensam mais, nos que querem mais, tudo tão mais numa escala ascendente, meteórica, propiciada pela razão. A razão age no espírito como uma droga, uma cocaína que força as pessoas a quererem o acima, o amanhã, e passarem esquecidas do agora, do aqui. Devemos reestudar, reprojetar e reeducar a razão. Aí, sim, poderemos dizer que temos muito mais amigos do que inimigos.
Os instintos sociais são nossa única régua, nosso único parâmetro do que é desejável e do que não é. Tudo que se afaste do instinto criará um atrito, pois as pessoas de todas as partes se afastarão do instinto em direções diferentes e agirão diferentemente, sem se entender. Se se aproximassem do instinto, sua relação seria como azeite em juntas enferrujadas, que deslizam suavemente. A lógica do senso-comum falaria por si só, e poderíamos passar a usar apenas o mínimo de razão necessária à manutenção da sociedade. Pois a razão, ainda que melhorada, permanece ineficiente, demasiado custosa e muitas vezes desnecessária.
Não prego que "a amoralidade é sem dúvida o imperativo universal que está além do homem". Que me importa o que está além do homem? Quero o que está NO homem. Porque já está lá, em algum lugar, e nós devemos encontrá-lo. Nada está além do homem. O que está no homem é sua base, sua história, sua diversidade, sua força, seus exemplos e potenciais, e o que está além do homem só pode estar no intelecto de um único homem, em sua imaginação, em seus planos. Que planos se tornem realidade, e veremos se confirmam ou contradizem o instinto, e mediremos daí seu potencial para o sucesso.
A amoralidade é apenas o princípio de estudo, a percepção de que nossa moral é apenas a NOSSA moral enquanto povo, e que há outras culturas igualmente diversas. Há socialismo e capitalismo, nazismo e fascismo (embora os últimos, apenas, me parecem tão morais. O socialismo e o capitalismo podem conter muito mais variação moral do que os outros dois). Daí, da ausência, desse oco de morais que surge de morais tão díspares, devemos investigar a moral "por dentro", o leito rochoso sob o solo fino, a moral objetiva, a moral do instinto, menos dividida, menos compartimentalizada, menos deformada por avanços e retrocessos que se acumulam sobre os códices legislativos, ou na forma de tabus, lendas e crendices incompletas, tantas vezes superficiais, simplórias, preconceituosas.
***
O temor de ver no instinto o amigo e na razão o inimigo parece vir do preconceito histórico do progresso. Acredita-se que vivemos melhor hoje do que no passado remoto, ou na idade média, o que é seriamente discutível. Embora alguns de nós tenhamos melhorado em diversos aspectos, como cultura, higiene, saúde, estatura e longevidade, nem todos se beneficiaram igualmente, e criamos duas "raças": uma culta, higiênica, saudável, alta e longeva num mundo em que a outra raça continua inculta, suja, doente, baixa e com pequenas perspectivas em todos os aspectos. E uma raça tem dinheiro e tem poder, e não freqüenta, simplesmente não quer ver nem conviver, com a outra raça. É a raça rica quem mais sofre do preconceito do progresso histórico, é evidente. Daí dar maior apoio à razão. O povo não quer razão, quer alegria e comida.
A saída que sobra para o povo diminuído é a religião. Para quem não pode ter o que sonha, cultura, moda, prestígio, arte, outra saída é o futebol, outra o carnaval. Detalhe que o povo sequer percebe que jamais terá a cultura, moda, prestígio que almeja se não obtiver, primeiro, a razão, o gosto pelo estudo, pelo conhecimento, que lhe dará oportunidades, que lhe mostrará a diversidade do mundo: justamente seu sonho! Mesmo assim despreza a razão, sempre, em favor da alegria imediata. A ingenuidade de tanta gente! Ao mesmo tempo, não conseguem desprezar esses valores e satisfazer-se por completo com o próprio instinto, com seu próprio fruir. Guardam um certo rancor, um certo medo de povo, de não ter razão, de estar desamparado, de ser espoliado todos os dias e ter que voltar pra casa e comer mais feijão. Não que eles pensem nisso toda hora, mas às vezes dói.
Outras saídas são as novelas, a ignorância camuflada de liberdade de pensamento, a crença no ideal do "brasileiro" como povo esperto, super-valorizado e feliz, escondendo as mazelas, desigualdades, injustiças e tudo que os jornais apenas dizem sob o tom sensacionalista de sempre, nunca como realidade digna de análise.
...mas seríamos melhor sermos parecidos, estaríamos todos mais à vontade.
***
"E pode-se prever que haverão ainda de existir infinitas outras morais que nosso cérebro e nossa biologia não nos permitem alcançar. Oh, como somos pequenos e ignóbeis."
Por quê, ignóbeis? Por quê, pequenos? Acaso temos obrigação ou necessidade de compreender outras morais, infinitas e até, na prática, inexistentes, uma vez que jamais as alcançaremos? Por que deveríamos ser grandes e racionais, apenas para conhecer o mundo todo? Conheçamos a nós mesmos e ao derredor, já é demais! Não foi justamente nessa vontade infinita de conhecimento que alcançamos a bomba atômica, e o lixo radioativo, e todas as formas de lixo, poluição e desequilíbrio ambiental? O conhecimento pelo conhecimento, ainda? Não vêm justo daí nossos maiores problemas? Da avidez da razão? Mais até que da ignorância, provavelmente? O pequeno parece ignóbil porque olha para dentro de si. Ali ele descobre muito mais coisas que o homem rico e alto com o maior dos telescópios, olhando séculos pela noite infinita, para as galáxias mais distantes, sem nunca ter olhado para o seu próximo.
"Como pesar qual é a melhor moral? Como pesar a moral que decide sobre a melhor moral? Nosso destino será sempre andar em círculos."
Quem anda em círculos acaba cavando um buraco sobre os próprios pés, e é o que viemos fazendo este tempo todo. A melhor moral, como a melhor lei, deve necesariamente ser a menos burocrática, a mais simples, a mais auto-evidente, desembaraçada de preciosismos lógicos e detalhes racionalizantes. Deve ser fácil, justa e razoável, como o instinto. Daí a Navalha de Occam ser um símbolo da universalidade e democracia do espírito científico. Porque embora a resposta mais simples não é necessariamente a mais correta, é a que nos poupa mais tempo, o precioso tempo para viver. Não queremos razão em excesso, queremos tempo para viver. Não queremos ser produtivos, queremos ócio para aproveitar, para preencher com a imobilidade, se for o caso, não precisamos gastar energia pensando, devemos poupá-la dormindo, e sonhando. Essa a idéia oculta por trás da ciência, mas que a própria ciência permitiu, mudando a moral medieval, sobrenatural e opressora, numa moral mais igualitária, curiosa e transparente do mundo moderno, do mundo cientificizado. A moral científica parece ter nos permitido viver com mais tranqüilidade de pensamento.
"Quanto temos perdido informação cultural ultimamente! É uma pena, já fomos tão mais interessantes!" Aqui o filósofo chora sua própria sabedoria. Fomos mesmo mais interessantes, mas o desinteresse parece ser o preço a pagar pela igualdade tão sonhada, pela inteligibilidade de outras culturas, fator imprescindível para evitar as guerras e facilitar nossa permanência como espécie.
"E parece-me que todo esse problema comece mesmo em nosso próprio instinto: o fato de querermos nos parecer com a classe dominante, com os mais ricos e poderosos; isso tem acabado com nossa informação cultural. O instinto, meu amigo, não é sempre bom."
Não, não é. Mas querer parecer a classe dominante não é um instinto mal. É apenas um instinto. E quiça um instinto bom, porque visa o equilíbrio. Mal é a cultura da classe dominante ser tão superior à dominada. Mal é os ricos e poderosos não quererem ceder um metro da distância que os separa dos pobres. Mal é a razão que foi necessária criar, definir, justificar, ocultar dos menos dotados de razão, de forma a tornar possível a desigualdade observada.
Quando a diferença é menor, há menos coisas de que o dominado precisa se privar, menos coisas que se envergonhar, ou que aspirar, ou invejar. Mais uma vez, o instinto é o nosso wireframe, nosso pré-requisito. O que precisamos mudar é a cultura, é encontrar o quadro social onde o instinto se assente mais calmo, menos ofendido, mais disposto a adquirir cultura espontaneamente. A sociedade deve buscar a justiça com o apoio do instinto - o instinto é a lanterna, e a razão a picareta que até hoje tem batido bem mais onde não devia.
Não creio que estamos tão atrelados à cultura quanto ao instinto, muito pelo contrário! Podemos carregar a cultura em qualquer direção, e não podemos mover o instinto um único milímetro. Estamos atrelados ao instinto, somos instinto, disso não resta dúvida, mas quem cria a cultura somos nós, nós inventamos a cultura. A cultura é parte de nós, mas nós somos parte do instinto. A cultura está atrelada à nossa criatividade, à criatividade dos poucos super-homens que precisam existir para mudar a história.
Sua super-sociedade ainda está presa à moral do faz-de-conta, da inexistência de opressão, da salvação de todos pela educação. Termos superlativos, totais, máximas. Sim, uma educação perfeita nos faria muito melhores, mas porque insistir na distância zero entre todos, o que está muito longe do razoável? Numa sociedade livre, a maior disposição pelo trabalho faz alguns construírem casas maiores, e construir ferramentas cujo uso dê maior status ao seu usuário, digamos, permitindo-o escolher as melhores esposas. Ao mesmo tempo, outros preferirão dormir pelos cantos e cantar às estrelas. Por que a distância entre ambos deve ser nula? Por que admitir uma necessidade que ainda não caiu na rede? Caiu na rede, sim, passa a ser peixe.
Sempre haverá alguém disposto a perturbar a ordem para se favorecer, e uma anarquia só se manteria pacífica pela aplicação de alguma lei, pelo estabelecimento dos critérios que regulariam a paz, a liberdade, a procedência de direitos. Ou seja: não existe anarquia pacífica. Sua sociedade quer ser erigida sobre fumaça, e não sobre as raízes da diversidade do instinto. A mesma diversidade que valorizamos do conservacionismo à antropologia também nos leva a querer diferenças, querer altos e baixos no nível em que as pessoas escolhem uma posição baixa, que exige pouca responsabilidade, ou alta, que dá poder em troca de maior responsabilidade. O poder existe, e o relevo sobre as cabeças humanas que representa este poder não é plano!
Dessa diferença de poder devem resultar os frutos, aquilo que se buscou, e o direito a colher os frutos do trabalho é um dos braços da discussão sobre justiça; e aí, meu considerado, aí estamos lascados!
Pense num bebê morto pela mãe incapaz de alimentá-lo. O abandono de bebês e o aborto são situações recorrentes sob o espectro da fome, por mães que não têm como alimentar aquele novo ser, em detrimento de outros que chegaram primeiro, onde já foi depositado um trabalho, e que cresceram contra todas as espectativas. No reino animal, os mamíferos de bolsa, como os cangurus, já dominaram meio mundo. Uma de suas vantagens evolutivas é a facilidade de abandonar filhotes em desenvolvimento: basta tirá-los da bolsa. Muitas mães sob condições críticas chegam a não dar nome às crianças até a idade em que sua sobrevivência se confirme, o que pode levar anos. Sob a égide da fome somos forçados a preferir a sobrevivência dos que já existem há mais tempo - valem mais que aquele feto, aquela coisa, aquilo que ainda não se tornou o que os outros já são. Onde não cabem todos, escolhas precisam ser feitas.
E quem há de chorar pelo leite derramado? Quem conhecia a criança perdida? Quem reclamará por justiça? A igreja? Qual a diferença entre a morte de um feto e a de uma mãe? Simples: as pessoas que a mãe conhecia. Os vículos afetivos, históricos, até os funcionais, produtivos. Apenas alguém muito frio, sem escrúpulos e sem compaixão pode pensar que a vida da mãe vale tanto quanto a do feto, em toda e qualquer ocasião. Quantos chorariam por um bebê desconhecido? Quem tem mais parentes para sofrer?
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Meu ideal de justiça é algo complexo: a justiça deve ser exigida por quem a quiser. Se uma vítima não tem quem reclame por ela, por que continuar viva? Se alguém teve motivos para matar alguém, a justiça só será exigida pelos que perderam o morto, pelos que sentem a sua falta. Se não existem estes, não existe mais crime. Quais poderiam ser os motivos do agressor? Ciúme, terra, dívida, discussão por futebol, política ou religião. Não importa. Culpar o assassino quando não há outro prejudicado que o cadáver parece-me exagerado. Se alguém sobrevive, que siga a vida. Mas se sentem falta do morto, que seja buscada justiça, e existem várias formas de se fazer isso.
O que acontece quando entregamos a justiça ao Estado é que os casos serão julgados pelas pessoas que não estão envolvidas e que não têm interesse, os burocratas. Pode até parecer lógico à primeira vista, mas não é. As pessoas são mais incomodadas pela justiça hiper-burocrática do que pelo incômodo total de uma sociedade sem justiça centralizada, num ambiente tampão, auto-regulado, homeostático. A justiça feita pelo pequeno em seu próprio interesse. E seria muita a carnificina? Ora, hoje ainda é pouca?
Ainda restaria Estado? Ou nação? Sim, a justiça ainda deveria existir, para lidar com as maiores contendas. Nenhuma força pode ser maior que o Estado. O Estado é formado pelos indivíduos que o compõem, isso justifica um exército, uma justiça, e até um legislativo descentralizado.
A legislação seria escrita pelos próprios interessados, em assembléias que hoje podem ser realizadas a baixo custo com o auxílio do ciberespaço. Cada projeto votado separadamente por comissões populares, como nos referendos, dando-se voz aos especialistas de cada área.
A justiça pública apenas seria acionada quando alguém reclamasse, interviesse por outrém. Essa medida com certeza geraria uma cordialidade, ainda que forçada, que baixaria os níveis atuais de individualidade. Um exaustor para tirar a fumaça atual e permitir-nos pensar com mais calma no próximo passo.
Justiça doméstica, legislativo participativo. Praticamente abolimos dois poderes. E o poder executivo? É bem provável que perca sua função na mesma proporção dos outros dois. Aí sim, os homens começarão a se auto-gerir e depender cada vez menos do governo, que acabará resumido a comitês e conselhos, formados apenas por interessados não-gratificados, que terão tempo de sobra para participar da sociedade, nesta sociedade menos apressada, menos competitiva, mais tolerante, que deve ser a sociedade do instinto. Menos, menos, mais, mais. Nada de zeros e tudos e nadas. Ao instinto, a diversidade. À cultura, o minimalismo ainda diverso. À nós, o futuro. Saúde!
Por Rodrigo Dias
Quando disse que "discordo veementemente de sua proposição do instinto como inimigo" é porque a idéia que ficou é que o instinto deve ser tratado assim; que sua maior parte é inimiga. Três trechos seus demonstram essa idéia:
"Assim como estudamos nossos inimigos para conseguir derrotá-los, devemos também estudar nossos instintos sociais para saber ao certo como domá-los";
"A sociobiologia permite, ao mesmo tempo, que estudemos nós mesmos e a parte de nós que é nossa inimiga" e
"Somente ao nos conhecermos e conhecermos também o 'inimigo social biológico' que trazemos dentre de nós, podemos tornar o mundo um lugar melhor."
É comum mesmo entre biólogos pensar que o homem que mata age biologicamente, irracionalmente, mais perto do bicho, e que a fria razão humana estaria de antemão mais próxima da justiça, da moral, da paz e da felicidade, quando o uso mais comum da razão é apenas tentar justificar o instinto. Acredita-se que a razão estaria mais próxima do bem, uma vez que é a característica humana por excelência. Apenas a característica mais humana poderia estar perto do bem, uma vez que apenas o nosso bem é um bem humano, como é também, diga-se de passagem, o bem divino, também chamado ópio do povo.
Falácias! Nosso bem é, em larga escala, apenas o bem animal. Conforto, saciedade e descanso. Bem-estar. É o que todos buscamos, no final, dos besouros ao resto. Devemos parar de nos drogar e atentar para o lado terrestre, físico, materialista num sentido que ainda não havia sido descrito, para o bem, como para o mal.
O perigo em pensar o instinto como mal, ou tanto mal como bem (ou como você ainda parece ver: mais como mal do que como bem, quando é justamente o contrário), é que se trata de uma metáfora subliminar e descuidada entre acima e abaixo na árvore evolutiva, estando o bicho ancestral abaixo, e o homem racional acima, com uma perspectiva religiosa, em que temos o mal, o inferno e sua legião abaixo, Deus e os justos, acima. Novamente outra metáfora perigosa: a Terra embaixo, a realidade física e ordinária, materialista e animal, a que não tem valor no imaginário popular (só nos cartórios e nos leilões) abaixo, junto do mal e do macaco da árvore evolutiva, na direção das raízes; e os céus acima, povoados de deuses e anjos, distante da realidade mundana, pobre e violenta; acima rumo ao conforto e alegria, a vidas futuras, rumo a tudo que o dinheiro hoje paga, acima, rumo ao ideário popular e religioso, na direção da irracionalidade, e também da racionalidade, da razão e todos os seus limites e limitações, a última novidade evolutiva, a menos aprimorada, a mais rústica, o progresso em termos biológicos, culturais e tecnológicos, o progresso na história, o futuro da esperança e da suposta felicidade, para o alto e avante!
Quanta mentira, quanta propaganda! É assim que as dicotomias e os fenômenos subliminares agem no dia-a-dia. E nos pegamos enxergando cauda como sinônimo de capeta. E o povo pobre acha que a Terra pertence ao mal, que o bem só pode estar longe, no alto inatingível, entre vertebrados gasosos que teriam criado um homem com vergonha da própria nudez.
Se isso não é chamar o instinto de inimigo, não sei o que seria. Sun Tzu, o grande sábio bélico da antiguidade chinesa, falou sobre inimigos que são como nós, não parte de nós. Além disso, minha sugestão para o reencontro com o instinto não é pela guerra, mas pelo convívio progressivo e calmo, pacífico e alegre. Só pelo conhecimento, e guerra é espoliação. Isso limita sua analogia, embora talvez não a invalide. Pessoas deveriam, antes de tudo, ser conquistadas com o carisma, se possível, e domadas apenas quando ameaçam nossa liberdade e integridade. Esse talvez seja o ensinamento de Tzu. O inimigo interno deve ser conhecido justamente para ser domado, mas quem é, então, o inimigo?
A meu ver, na sociedade moderna, a razão de uns poucos é o que ameaça a liberdade e a integridade da maioria; a culpa não está no instinto. A culpa está nos que trabalham mais, nos que pensam mais, nos que querem mais, tudo tão mais numa escala ascendente, meteórica, propiciada pela razão. A razão age no espírito como uma droga, uma cocaína que força as pessoas a quererem o acima, o amanhã, e passarem esquecidas do agora, do aqui. Devemos reestudar, reprojetar e reeducar a razão. Aí, sim, poderemos dizer que temos muito mais amigos do que inimigos.
Os instintos sociais são nossa única régua, nosso único parâmetro do que é desejável e do que não é. Tudo que se afaste do instinto criará um atrito, pois as pessoas de todas as partes se afastarão do instinto em direções diferentes e agirão diferentemente, sem se entender. Se se aproximassem do instinto, sua relação seria como azeite em juntas enferrujadas, que deslizam suavemente. A lógica do senso-comum falaria por si só, e poderíamos passar a usar apenas o mínimo de razão necessária à manutenção da sociedade. Pois a razão, ainda que melhorada, permanece ineficiente, demasiado custosa e muitas vezes desnecessária.
Não prego que "a amoralidade é sem dúvida o imperativo universal que está além do homem". Que me importa o que está além do homem? Quero o que está NO homem. Porque já está lá, em algum lugar, e nós devemos encontrá-lo. Nada está além do homem. O que está no homem é sua base, sua história, sua diversidade, sua força, seus exemplos e potenciais, e o que está além do homem só pode estar no intelecto de um único homem, em sua imaginação, em seus planos. Que planos se tornem realidade, e veremos se confirmam ou contradizem o instinto, e mediremos daí seu potencial para o sucesso.
A amoralidade é apenas o princípio de estudo, a percepção de que nossa moral é apenas a NOSSA moral enquanto povo, e que há outras culturas igualmente diversas. Há socialismo e capitalismo, nazismo e fascismo (embora os últimos, apenas, me parecem tão morais. O socialismo e o capitalismo podem conter muito mais variação moral do que os outros dois). Daí, da ausência, desse oco de morais que surge de morais tão díspares, devemos investigar a moral "por dentro", o leito rochoso sob o solo fino, a moral objetiva, a moral do instinto, menos dividida, menos compartimentalizada, menos deformada por avanços e retrocessos que se acumulam sobre os códices legislativos, ou na forma de tabus, lendas e crendices incompletas, tantas vezes superficiais, simplórias, preconceituosas.
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O temor de ver no instinto o amigo e na razão o inimigo parece vir do preconceito histórico do progresso. Acredita-se que vivemos melhor hoje do que no passado remoto, ou na idade média, o que é seriamente discutível. Embora alguns de nós tenhamos melhorado em diversos aspectos, como cultura, higiene, saúde, estatura e longevidade, nem todos se beneficiaram igualmente, e criamos duas "raças": uma culta, higiênica, saudável, alta e longeva num mundo em que a outra raça continua inculta, suja, doente, baixa e com pequenas perspectivas em todos os aspectos. E uma raça tem dinheiro e tem poder, e não freqüenta, simplesmente não quer ver nem conviver, com a outra raça. É a raça rica quem mais sofre do preconceito do progresso histórico, é evidente. Daí dar maior apoio à razão. O povo não quer razão, quer alegria e comida.
A saída que sobra para o povo diminuído é a religião. Para quem não pode ter o que sonha, cultura, moda, prestígio, arte, outra saída é o futebol, outra o carnaval. Detalhe que o povo sequer percebe que jamais terá a cultura, moda, prestígio que almeja se não obtiver, primeiro, a razão, o gosto pelo estudo, pelo conhecimento, que lhe dará oportunidades, que lhe mostrará a diversidade do mundo: justamente seu sonho! Mesmo assim despreza a razão, sempre, em favor da alegria imediata. A ingenuidade de tanta gente! Ao mesmo tempo, não conseguem desprezar esses valores e satisfazer-se por completo com o próprio instinto, com seu próprio fruir. Guardam um certo rancor, um certo medo de povo, de não ter razão, de estar desamparado, de ser espoliado todos os dias e ter que voltar pra casa e comer mais feijão. Não que eles pensem nisso toda hora, mas às vezes dói.
Outras saídas são as novelas, a ignorância camuflada de liberdade de pensamento, a crença no ideal do "brasileiro" como povo esperto, super-valorizado e feliz, escondendo as mazelas, desigualdades, injustiças e tudo que os jornais apenas dizem sob o tom sensacionalista de sempre, nunca como realidade digna de análise.
...mas seríamos melhor sermos parecidos, estaríamos todos mais à vontade.
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"E pode-se prever que haverão ainda de existir infinitas outras morais que nosso cérebro e nossa biologia não nos permitem alcançar. Oh, como somos pequenos e ignóbeis."
Por quê, ignóbeis? Por quê, pequenos? Acaso temos obrigação ou necessidade de compreender outras morais, infinitas e até, na prática, inexistentes, uma vez que jamais as alcançaremos? Por que deveríamos ser grandes e racionais, apenas para conhecer o mundo todo? Conheçamos a nós mesmos e ao derredor, já é demais! Não foi justamente nessa vontade infinita de conhecimento que alcançamos a bomba atômica, e o lixo radioativo, e todas as formas de lixo, poluição e desequilíbrio ambiental? O conhecimento pelo conhecimento, ainda? Não vêm justo daí nossos maiores problemas? Da avidez da razão? Mais até que da ignorância, provavelmente? O pequeno parece ignóbil porque olha para dentro de si. Ali ele descobre muito mais coisas que o homem rico e alto com o maior dos telescópios, olhando séculos pela noite infinita, para as galáxias mais distantes, sem nunca ter olhado para o seu próximo.
"Como pesar qual é a melhor moral? Como pesar a moral que decide sobre a melhor moral? Nosso destino será sempre andar em círculos."
Quem anda em círculos acaba cavando um buraco sobre os próprios pés, e é o que viemos fazendo este tempo todo. A melhor moral, como a melhor lei, deve necesariamente ser a menos burocrática, a mais simples, a mais auto-evidente, desembaraçada de preciosismos lógicos e detalhes racionalizantes. Deve ser fácil, justa e razoável, como o instinto. Daí a Navalha de Occam ser um símbolo da universalidade e democracia do espírito científico. Porque embora a resposta mais simples não é necessariamente a mais correta, é a que nos poupa mais tempo, o precioso tempo para viver. Não queremos razão em excesso, queremos tempo para viver. Não queremos ser produtivos, queremos ócio para aproveitar, para preencher com a imobilidade, se for o caso, não precisamos gastar energia pensando, devemos poupá-la dormindo, e sonhando. Essa a idéia oculta por trás da ciência, mas que a própria ciência permitiu, mudando a moral medieval, sobrenatural e opressora, numa moral mais igualitária, curiosa e transparente do mundo moderno, do mundo cientificizado. A moral científica parece ter nos permitido viver com mais tranqüilidade de pensamento.
"Quanto temos perdido informação cultural ultimamente! É uma pena, já fomos tão mais interessantes!" Aqui o filósofo chora sua própria sabedoria. Fomos mesmo mais interessantes, mas o desinteresse parece ser o preço a pagar pela igualdade tão sonhada, pela inteligibilidade de outras culturas, fator imprescindível para evitar as guerras e facilitar nossa permanência como espécie.
"E parece-me que todo esse problema comece mesmo em nosso próprio instinto: o fato de querermos nos parecer com a classe dominante, com os mais ricos e poderosos; isso tem acabado com nossa informação cultural. O instinto, meu amigo, não é sempre bom."
Não, não é. Mas querer parecer a classe dominante não é um instinto mal. É apenas um instinto. E quiça um instinto bom, porque visa o equilíbrio. Mal é a cultura da classe dominante ser tão superior à dominada. Mal é os ricos e poderosos não quererem ceder um metro da distância que os separa dos pobres. Mal é a razão que foi necessária criar, definir, justificar, ocultar dos menos dotados de razão, de forma a tornar possível a desigualdade observada.
Quando a diferença é menor, há menos coisas de que o dominado precisa se privar, menos coisas que se envergonhar, ou que aspirar, ou invejar. Mais uma vez, o instinto é o nosso wireframe, nosso pré-requisito. O que precisamos mudar é a cultura, é encontrar o quadro social onde o instinto se assente mais calmo, menos ofendido, mais disposto a adquirir cultura espontaneamente. A sociedade deve buscar a justiça com o apoio do instinto - o instinto é a lanterna, e a razão a picareta que até hoje tem batido bem mais onde não devia.
Não creio que estamos tão atrelados à cultura quanto ao instinto, muito pelo contrário! Podemos carregar a cultura em qualquer direção, e não podemos mover o instinto um único milímetro. Estamos atrelados ao instinto, somos instinto, disso não resta dúvida, mas quem cria a cultura somos nós, nós inventamos a cultura. A cultura é parte de nós, mas nós somos parte do instinto. A cultura está atrelada à nossa criatividade, à criatividade dos poucos super-homens que precisam existir para mudar a história.
Sua super-sociedade ainda está presa à moral do faz-de-conta, da inexistência de opressão, da salvação de todos pela educação. Termos superlativos, totais, máximas. Sim, uma educação perfeita nos faria muito melhores, mas porque insistir na distância zero entre todos, o que está muito longe do razoável? Numa sociedade livre, a maior disposição pelo trabalho faz alguns construírem casas maiores, e construir ferramentas cujo uso dê maior status ao seu usuário, digamos, permitindo-o escolher as melhores esposas. Ao mesmo tempo, outros preferirão dormir pelos cantos e cantar às estrelas. Por que a distância entre ambos deve ser nula? Por que admitir uma necessidade que ainda não caiu na rede? Caiu na rede, sim, passa a ser peixe.
Sempre haverá alguém disposto a perturbar a ordem para se favorecer, e uma anarquia só se manteria pacífica pela aplicação de alguma lei, pelo estabelecimento dos critérios que regulariam a paz, a liberdade, a procedência de direitos. Ou seja: não existe anarquia pacífica. Sua sociedade quer ser erigida sobre fumaça, e não sobre as raízes da diversidade do instinto. A mesma diversidade que valorizamos do conservacionismo à antropologia também nos leva a querer diferenças, querer altos e baixos no nível em que as pessoas escolhem uma posição baixa, que exige pouca responsabilidade, ou alta, que dá poder em troca de maior responsabilidade. O poder existe, e o relevo sobre as cabeças humanas que representa este poder não é plano!
Dessa diferença de poder devem resultar os frutos, aquilo que se buscou, e o direito a colher os frutos do trabalho é um dos braços da discussão sobre justiça; e aí, meu considerado, aí estamos lascados!
Pense num bebê morto pela mãe incapaz de alimentá-lo. O abandono de bebês e o aborto são situações recorrentes sob o espectro da fome, por mães que não têm como alimentar aquele novo ser, em detrimento de outros que chegaram primeiro, onde já foi depositado um trabalho, e que cresceram contra todas as espectativas. No reino animal, os mamíferos de bolsa, como os cangurus, já dominaram meio mundo. Uma de suas vantagens evolutivas é a facilidade de abandonar filhotes em desenvolvimento: basta tirá-los da bolsa. Muitas mães sob condições críticas chegam a não dar nome às crianças até a idade em que sua sobrevivência se confirme, o que pode levar anos. Sob a égide da fome somos forçados a preferir a sobrevivência dos que já existem há mais tempo - valem mais que aquele feto, aquela coisa, aquilo que ainda não se tornou o que os outros já são. Onde não cabem todos, escolhas precisam ser feitas.
E quem há de chorar pelo leite derramado? Quem conhecia a criança perdida? Quem reclamará por justiça? A igreja? Qual a diferença entre a morte de um feto e a de uma mãe? Simples: as pessoas que a mãe conhecia. Os vículos afetivos, históricos, até os funcionais, produtivos. Apenas alguém muito frio, sem escrúpulos e sem compaixão pode pensar que a vida da mãe vale tanto quanto a do feto, em toda e qualquer ocasião. Quantos chorariam por um bebê desconhecido? Quem tem mais parentes para sofrer?
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Meu ideal de justiça é algo complexo: a justiça deve ser exigida por quem a quiser. Se uma vítima não tem quem reclame por ela, por que continuar viva? Se alguém teve motivos para matar alguém, a justiça só será exigida pelos que perderam o morto, pelos que sentem a sua falta. Se não existem estes, não existe mais crime. Quais poderiam ser os motivos do agressor? Ciúme, terra, dívida, discussão por futebol, política ou religião. Não importa. Culpar o assassino quando não há outro prejudicado que o cadáver parece-me exagerado. Se alguém sobrevive, que siga a vida. Mas se sentem falta do morto, que seja buscada justiça, e existem várias formas de se fazer isso.
O que acontece quando entregamos a justiça ao Estado é que os casos serão julgados pelas pessoas que não estão envolvidas e que não têm interesse, os burocratas. Pode até parecer lógico à primeira vista, mas não é. As pessoas são mais incomodadas pela justiça hiper-burocrática do que pelo incômodo total de uma sociedade sem justiça centralizada, num ambiente tampão, auto-regulado, homeostático. A justiça feita pelo pequeno em seu próprio interesse. E seria muita a carnificina? Ora, hoje ainda é pouca?
Ainda restaria Estado? Ou nação? Sim, a justiça ainda deveria existir, para lidar com as maiores contendas. Nenhuma força pode ser maior que o Estado. O Estado é formado pelos indivíduos que o compõem, isso justifica um exército, uma justiça, e até um legislativo descentralizado.
A legislação seria escrita pelos próprios interessados, em assembléias que hoje podem ser realizadas a baixo custo com o auxílio do ciberespaço. Cada projeto votado separadamente por comissões populares, como nos referendos, dando-se voz aos especialistas de cada área.
A justiça pública apenas seria acionada quando alguém reclamasse, interviesse por outrém. Essa medida com certeza geraria uma cordialidade, ainda que forçada, que baixaria os níveis atuais de individualidade. Um exaustor para tirar a fumaça atual e permitir-nos pensar com mais calma no próximo passo.
Justiça doméstica, legislativo participativo. Praticamente abolimos dois poderes. E o poder executivo? É bem provável que perca sua função na mesma proporção dos outros dois. Aí sim, os homens começarão a se auto-gerir e depender cada vez menos do governo, que acabará resumido a comitês e conselhos, formados apenas por interessados não-gratificados, que terão tempo de sobra para participar da sociedade, nesta sociedade menos apressada, menos competitiva, mais tolerante, que deve ser a sociedade do instinto. Menos, menos, mais, mais. Nada de zeros e tudos e nadas. Ao instinto, a diversidade. À cultura, o minimalismo ainda diverso. À nós, o futuro. Saúde!
Por Rodrigo Dias
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